segunda-feira, 5 de abril de 2010

Boca nervosa

Ando meio cá, meio lá, ainda me refazendo da última pancada.
E tem coisa melhor prá aprumar uma cidadã, do que inventar uma nova moda?
Penetraremos, entonces, na área que faltava aqui, os tais estomas.
A origem do termo é a palavra stoma (do grego, se num enlouqueci), que significa boca.
No caso do nosso ganha pão, uma boca extra que o cirurgião faz, para deixar funcionando um órgão que num tava lá, digamos, muito católico.
Um fiofó que perdeu a capacidade de conter/expelir no momento adequado. Um reto que precisou ser amputado e o que sobrou num dá prá chegar bacaninha no roscófi do cabra. Uma bexiga idem. E por aí vai.
Modos que o caboclo fica com um buraco extra, por onde se expele ou se introduz o que for necessário.
Se for uma gastrostomia, a gente bota comida líquida dentro, prá quem perdeu o estômago.
Uma colostomia serve para eliminar as fezes, e nós adaptamos uma bolsa bacanuda prá receber o barro.
Uma vesicostomia faz o mesmo em relação a urina, só que a bolsa é um tanto diferente.
E tem zilhões de produtos para tornar a vida das pessoas que precisam de um estoma muito mais confortável.
É uma cacetada? Claro que sim.
Mas a maioria dos pacientes se adaptam tão bem a ponto de fazerem exatamente tudo o que faziam antes: esquiar, surfar, mergulhar, nadar, transar, namorar, correr, dançar, beber, comer e viver. E viver bem.
Confesso que ter uma estomaterapeuta antes da cirurgia, para fazer a demarcação do local apropriado para a construção do estoma, e para orientar quanto ao que vai acontecer no pós-operatório, é receita certa de adaptação à nova condição.
E, depois da facada, a gente entra com mil soluções infalíveis prá tirar o odor, esvaziar as bolsas, fazer irrigação, dicas de underware disfarcilda para mulheres vaidosas, dicas para furunfar sem riscos de acidentes, cuidar da pele ao redor do estoma, tratar as alergias, por prá dentro os estomas saidinhos, por prá fora os retraídos, posicionar os trapaiados, etc, etc.
Enfim, cada pobrema com sua alternativa porreta.
Enquanto a gente cuida disso, vamos trocando figurinhas com os pacientes e, em pouco tempo, a maioria deles bate asas... e fundam as associações dos estomizados pelo mundo afora, lutam pelos seus direitos, viajam, tocam na banda e fazem bolo prá fora.
Parece simples, né?
E quase é.
Como tudo na vida.
Sei lá por que (junto? separado? com acento?), me lembrei ainda agorinha de um poema da Cecília Meireles, que sempre me falou ao coração:

"Não se aflija com a pétala que voa,
também é ser, deixar de ser assim".

Ando tão sentimentalzinha, que dá até nojo... chuff!
Beijo,

Um comentário:

  1. Como sempre, sua maneira de falar, de um assunto meio chato, é espetacular!! É chato, mas tem que ser dito, e ninguém melhor do que vc! Queria ter te conhecido há mais tempo... Meu fiote fez uma Pielostomia com 5 meses e ficou com ela por uns 5 anos... Inicialmente seria uma vesicostomia e o xixi cairia na fralda comum. Na hora da cirurgia, o médico decidiu fazer direto no rim e não me deu solução pra o que fazer com aquele xixi... eu que tive que inventar cortar todo excesso de fralda, cortava bem rente à barreira anti-vazamento e colava, pegando as costas também, com fita transpore, para não maltratar demais a pele... Isso durate 5 anos... Por que vc não apareceu antes na minha vida, hein?? Beijo na bunda seca!

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