quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Novidades no front!

Meus zamores:

Depois de um longo e tenebroso inverno, aqui vamos nós.
Nem vou explicar porque não postei nesses tempos, pois foi falta de vontade, mesmo. Da grossa.
Mas agora temos duas boas novidades no mercado nacional, que você precisa conhecer:
A primeira delas é uma toalhinha (lenço é pouco, a danada é caprichada) umedecida, para a limpeza do períneo, que é um luxo.
Chama-se "Comfort Shield - Barrier Cloths", sacou a chiqueteza da coisa?
Ela é umedecida com Dimeticona, que faz uma proteção fantástica e duradoura na pele, além de preservar o pH (acidez) da mesma, evitando que apareçam lesões por irritação no contato com fezes/urina.
Eu tenho sempre um pacotinho no carro (ou na bolsa, se for das maiores), e resolve muitos perrengues. A distribuidora nacional é uma empresa chamada Politec, e você poderá saber mais a respeito no site deles: http://www.politec.net/
A segunda novidade, também é para a pele, e chama-se "3M Cavilon - Creme Barreira Durável".
O nome já diz tudo, é um creme que faz uma barreira protetora na pele, prevenindo as lesões causadas pelo contato com urina e fezes. É um irmão da película protetora Cavilon, que eu também recomendo. Vale a pena conhecer.
Siga o site: www.3m.com.br
Temos uma outra super novidade, mas essa ficará para a outra semana, pois merece uma caixa de fogos de artifício.
Até porque você terá dois bons motivos para esperar: o teste dos produtos que eu recomendei hoje.
Com certeza os distribuidores atenderão o seu contato, pois ambos têm enfermeiras estomaterapeutas no suporte ao consumidor, que são profissionais da melhor qualidade.
Beijobas prá vocês,

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Boca nervosa

Ando meio cá, meio lá, ainda me refazendo da última pancada.
E tem coisa melhor prá aprumar uma cidadã, do que inventar uma nova moda?
Penetraremos, entonces, na área que faltava aqui, os tais estomas.
A origem do termo é a palavra stoma (do grego, se num enlouqueci), que significa boca.
No caso do nosso ganha pão, uma boca extra que o cirurgião faz, para deixar funcionando um órgão que num tava lá, digamos, muito católico.
Um fiofó que perdeu a capacidade de conter/expelir no momento adequado. Um reto que precisou ser amputado e o que sobrou num dá prá chegar bacaninha no roscófi do cabra. Uma bexiga idem. E por aí vai.
Modos que o caboclo fica com um buraco extra, por onde se expele ou se introduz o que for necessário.
Se for uma gastrostomia, a gente bota comida líquida dentro, prá quem perdeu o estômago.
Uma colostomia serve para eliminar as fezes, e nós adaptamos uma bolsa bacanuda prá receber o barro.
Uma vesicostomia faz o mesmo em relação a urina, só que a bolsa é um tanto diferente.
E tem zilhões de produtos para tornar a vida das pessoas que precisam de um estoma muito mais confortável.
É uma cacetada? Claro que sim.
Mas a maioria dos pacientes se adaptam tão bem a ponto de fazerem exatamente tudo o que faziam antes: esquiar, surfar, mergulhar, nadar, transar, namorar, correr, dançar, beber, comer e viver. E viver bem.
Confesso que ter uma estomaterapeuta antes da cirurgia, para fazer a demarcação do local apropriado para a construção do estoma, e para orientar quanto ao que vai acontecer no pós-operatório, é receita certa de adaptação à nova condição.
E, depois da facada, a gente entra com mil soluções infalíveis prá tirar o odor, esvaziar as bolsas, fazer irrigação, dicas de underware disfarcilda para mulheres vaidosas, dicas para furunfar sem riscos de acidentes, cuidar da pele ao redor do estoma, tratar as alergias, por prá dentro os estomas saidinhos, por prá fora os retraídos, posicionar os trapaiados, etc, etc.
Enfim, cada pobrema com sua alternativa porreta.
Enquanto a gente cuida disso, vamos trocando figurinhas com os pacientes e, em pouco tempo, a maioria deles bate asas... e fundam as associações dos estomizados pelo mundo afora, lutam pelos seus direitos, viajam, tocam na banda e fazem bolo prá fora.
Parece simples, né?
E quase é.
Como tudo na vida.
Sei lá por que (junto? separado? com acento?), me lembrei ainda agorinha de um poema da Cecília Meireles, que sempre me falou ao coração:

"Não se aflija com a pétala que voa,
também é ser, deixar de ser assim".

Ando tão sentimentalzinha, que dá até nojo... chuff!
Beijo,

terça-feira, 9 de março de 2010

Liquidando a fatura

Encerrando, ao menos por enquanto, esta etapa de falar de feridas, vou contar um "causo" que rolou comigo semana passada e me deixou bem chateada.
Uma das pacientes que eu estou atendendo não tinha condições de ir a clinica para TODOS os curativos e combinamos que ela iria uma vez por semana, quando eu avaliaria, faria o necessário e orientaria o cuidador para a continuidade do tratamento no domicílio.
Dito e feito, mas o cuidador tinha um pouco de nojo e mal olhava para o que eu fazia, concordando com tudo. Sim, entendi como faz.
Eram três feridas na perna, duas em fase final de cicatrização, nas quais usei um produto para manter o leito da ferida na umidade necessária. E na pior eu coloquei uma cobertura com alginato de cálcio + prata, pois era muito exsudativa e estava colonizada. Resumindo: babava muito e tinha muitas bactérias morando ali, mas ainda sem infecção.
Uns quatro dias depois, outra pessoa da família me liga dizendo que tinha piorado e me contou os detalhes. Orientei para que procurassem o cirurgião vascular que também acompanhava, pois seria o caso de retomar a antibioticoterapia.
No retorno eu vejo um curativo todo atrapalhado, nada a ver com o que eu prescrevi. Botaram a cobertura de uma na outra, por baixo, uma mixorda do cão!
O que desencadeou o agravamento da ferida, sem dúvida.
A cuidadora toda sem graça me disse que achou que era assim que deveria fazer e, que ainda por cima, o médico elogiou o curativo e os produtos utilizados, tudo de primeira linha. E passou o antibiótico, claro!
Eu fiquei rindo por dentro, pensando com meus cadarços acerca da onipotência do saber do cidadão que, prá num descer do salto, passou pelo ridículo de elogiar algo que mal conhece.
Senti um pouco de vergonha alheia, confesso.
Esse imbroglio todo é para dizer o seguinte: se você for a uma loja de produtos cirúrgicos vai encontrar zilhões de coberturas para feridas. Cada uma com uma propriedade, que nem remédio em farmácia.
Para usar qualquer uma, fale com um especialista. Caso contrário, pode piorar o quadro.
Para os profissionais, fica a dica: depois de 25 anos de estrada, a gente faz coisa errada sim. Afinal de contas, se o cuidador num fez direito em casa, é porque eu não soube orientar adequadamente.
E para aqueles que são pegos de surpresa com alguma nova tecnologia, a velha fórmula: ninguém tem condições de saber TUDO sobre TODOS os temas. E não é vergonha dizer que não conhece e que vai se informar melhor para poder opinar. Ao contrário, isso mostra ao paciente que a gente é de verdade.
Mas que num é fácil, lá isso não é.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Perebas 2: e a saga continua.

Continuando a minha missão de ensandecer os viventes que aqui aportam, falaremos um tico a mais de perebas e quetais.
Se você já escafunchou a famiage toda em busca de alguma tia véia com pereba prá se meter a curandeiro, tem mais novidade na área.
Além das úlceras por pressão, você já deve ter visto muita gente com feridas nas pernas ou nos pés, com aquelas faixas horrendas.
Algumas vezes, prá efeito de esmola, o cabra costuma deixar babar um caldinho amarelo, que faz um efeito e tanto na doação... e fica muito chic, mesmo.
Como dizem que já disse Hipócrates, "cicatrizar é uma questão de tempo, mas também de oportunidade".
Isso significa que, com/sem ou apesar do profissional de saúde, as feridas tendem a fechar, um dia.
O grande problema é QUANDO isso ocorrerá.
Quanto mais demorar, pior a qualidade da nova pele no local, como já comentei antes.
E em muitos casos, apesar de haver um ingestão alimentar equilibrada, repouso, retirada da pressão, limpeza adequada, uso de coberturas inteligentes, etc, etc, a coisa não anda.
Pode ser por causa das condições circulatórias no local, que ocasionam as úlceras venosas (por doença venosa), as úlceras arteriais (por insuficiência arterial), ou as mistas.
Todas são chamadas de úlceras vasculogênicas.
Lindo nome prá uma criança, né?
Passando a régua: ferida nos membros inferiores requer avaliação da circulação, a ser feita por um cirurgião vascular. De responsa, de preferência.
Acha que tá bão? Que nada.
Existem ainda as úlceras diabéticas, causadas por alteração de sensibilidade ou, em casos mais avançados, por deficiência na microcirculação sanguínea.
Prá essas, antes de mais nada, é fundamental o controle rigoroso dos níveis glicêmicos. Senão nada feito.
Estamos falando de dieta, medicamentos, atividade física. Mudança de hábitos, em suma.
Tá pirando? Deixe de onda, temos ainda um caminhão de causas perebísticas por aí: leishmaniose, infecções bacterianas, dentre elas.
Para todas, sem exceção, o tratamento passa por controle do agente causador, suporte nutricional, repouso, uso de coberturas adequadas, limpeza do leito da ferida, ingestão hídrica, controle da dor e de doenças associadas.
Facinho, né?
Mas, para quem teve festas de findiano, férias, Carnaval, farra do boi, e tudo o mais, é só juntar as forças e mexer a buzanfa.
O trabalho é árduo, mas dá bons resultados.
Beijo no cachorro,

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Buzanfa prejudicada

A pedido de Jairo, meu bródi, escrevi um post sobre feridas pro blog dele e que, depois de doado, meu chapa mui gentilmente, me deixou usar aqui.
A coisa começa assim: quando a gente tem a sensibilidade normal, mudamos de posição constantemente, sem que nos demos conta.
Fazemos isso no piloto automático, descruzando pernas, levantando uma banda da bunda da cadeira, chacoalhando as pernas, e por aí vai.
Prestenção que você faz isso todo o tempo, sem perceber.
Com a sensibilidade do tato alterada, como acontece em várias deficiências ou lesões neurológicas, essa percepção para mudar de posição não acontece, e a pessoa fica horas/dias/meses do mesmo jeito, se alguém não auxiliar na mudança, para aqueles que também tem a mobilidade prejudicada.
Se isso acontecer, os pequenos vasos (artérias e veias) ficam comprimidos entre as saliências ósseas e a cama, deixando de levar sangue aos tecidos. Isso ocasiona a morte das células.
Tecido morto para o nosso corpo é coisa estranha, ele só reconhece coisas vivas e daí o negócio é botar para fora.
Está iniciada a "úlcera por pressão", que recebe esse nome justamente para que se lembre a sua origem. Antigamente chamava-se escara, hoje o nome mudou.
Começa sempre com uma vermelhidão que não desaparece quando se comprime levemente a pele, esse é o estágio I. Pode botar fé que aí a pele já morreu, abrir tudo é só uma questão de tempo.
Estágio II é quando tem perda de tecido de pequena profundidade, atingindo somente as camadas superiores da pele. No estágio III há o comprometimento de toda a pele e, no IV há perda de músculos e pode chegar aos ossos.
Ou seja, o cabra chega no pronto socorro todo estropiado, a equipe vai cuidando de fazer diagnóstico, radiografias, tomografia, imobilização, cirurgia, curativos, medicamentos, estabilizar o caboclo e todo mundo deixa ele bem quietinho, sem mexer.
Quando passa o furacão, se aparecer uma alma sensível e competente, vão começar a mudar de posição na cama e... surpresa!!!
Tem uma baita feridona na buzanfa do cidadão.
E não é só aí, não. Onde tiver pele sendo comprimida por uma proeminência óssea pode acontecer uma úlcera por pressão, até na cabeça.
Simples assim.
Vamos tratar? Prá começar, mudar de posição a cada duas horas, religiosamente.
Isso quer dizer virar para um lado, ficar duas horas. Depois virar para o outro, mais duas.
Depois de bruços, outras duas horas.
E de costas, mais duas horas.
Ou seja, somente a cada 6 horas (se num errei nas contas) vai haver pressão na mesma área novamente.
Se estiver sentado na cadeira de rodas, tem que fazer a “descompressão isquiática”, ou push-up: a cada 30 minutos, levantar a buzanfa e perninhas sustentando-as nos braços, pelo máximo tempo que conseguir.
Sem isso, pode baixar gzuis que a ferida num fecha, pois faltará o principal: estradas livres (vasos sanguíneos) para chegar nutrientes nas células.
Segunda coisa: alimentação rica em proteínas e vitaminas, com suporte profissional. Caso contrário não haverá nutrientes suficientes para criar pele onde precisa ser cicatrizado. E pode comer de tudo, nenhum alimento é proibido por causar feridas, pelamordedeus!!!!!
Prá finalizar, sugiro a contribuição de um profissional enfermeiro com conhecimento especializado em feridas, o estomaterapeuta (uma lesada que nem eu, craro), para avaliar o cidadão e a lesão e indicar a melhor cobertura a ser colocada ali, além da limpeza adequada.
Não dá prá chutar nem botar qualquer coisa, pois isso pode atrapalhar tudo.
E jamais deixar aberto, botar prá tomar sol, utilizar produtos caseiros, ervas e quetais.
Ah, e o sujeito tem que estar sempre sequinho, limpo, sem fezes ou urina, senão vira um caos.
Esse é o grande nó da coisa, pois sempre que começamos um tratamento, temos que tirar fraldas sujas de urina e fezes, tudo colado na ferida.... retrocesso geral.
Semana que vem continuo falando de perebas, esse assunto tão sedutor.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Depois de um mês de novembro trabalhando feito maluca, um dezembro tal e coisa, começamos um novo ano.
E, só prá chacoalhar, dê uma olhada na manchete que acabo de ler no UOL :

"Menino de 2 anos morre depois de ter apanhado do pai por ter urinado nas calças"

Perversão total.
De conceitos, de moral, de costumes, da educação, do caráter e, de quebra, da fisiologia.

Salve 2010!!!!