quarta-feira, 29 de abril de 2009

Aviso

Aos cinco leitores desse blog:

Devido ao excesso de cachaça, petiscos, farra e quetais, a dona dessa bodega não tinha condições de escrever um post decente hoje.
É que ontem foi aniversário da fiota e fui praticamente obrigada a encher a fuça, coisa que muito me desagrada.
E agora estou saindo pro jantar mensal da Confraria gastronômica da qual faço parte, onde providenciarei o devido encharcamento dos neurônios restantes, com muito champagne e algum vinho.
Assim sendo, somente no dia Mundial do Trabalho, quando estarei restabelecida de tanta esbórnia, terei condições de voltar a esse nobre recinto, se a diarréia assim me permitir.
Beijoconas,

terça-feira, 28 de abril de 2009

Fraldas???


Existe uma grande variedade de equipamentos acessórios, no mercado nacional, para auxiliar as pessoas que têm perda urinária.
A mais conhecida de todos é a maldita fralda.
Isso porque, além das crianças nos primeiros anos de vida, que perdem fezes e urina até adquirirem o controle neurológico, essas carçonas não ajudam muito mais ninguém.
Acontece que elas foram desenhadas prá esse fim: as crianças.
E depois os caras começaram a fabricar em tamanho grande, sem nenhuma mudança significativa, e passaram a dizer que eram para adultos e idosos.
Vamos pensar juntos, então?
O homem que perde urina, se molha onde? Na frente, onde ele aloja o documento, certo?
Então ele num precisa de um troço que envolva a bunda, os quadris e tudo o mais, combinado?
A menos que a gente esqueça o indivíduo todo mijado, por horas e horas.
Pensando nisso, o produto que ele precisa tem que acomodar o pênis + escroto, ser absorvente, auto-adesivo, transformar a urina recebida em flocos de gel e ser confortável.

As duas imagens ilustram alguns modelos masculinos existentes no mercado nacional.

E a mulher? Nós perdemos urina lá embaixo, nas partes. Então nosso absorvente urinário deve ser parecido com aqueles que usamos para conter o fluxo menstrual.
Capturou a mensagem?
Isso quer dizer que dá prá viver mais confortável quando se tem um produto que atenda às necessidades e que seja desenhado especialmente para isso.
E aquelas pessoas que perdem fezes e urina?
Oportunamente eu falarei da perda de fezes e o que se pode fazer para melhorar isso, já que se trata de outro departamento, tá bão?
Ah, vale lembrar que as pessoas que fazem o cateterismo vesical intermitente limpo com indicação adequada têm muito menos perdas urinárias nos intervalos, quando têm.
Para esses casos é que eu sugiro o uso do absorvente.
Já os que continuam se molhando significativamente nos intervalos, mesmo com o cateterismo, devem conversar com um urologista rapidinho, pois essa bexiga pode ter alguma outra alteração (hiperreflexia), o que pede outro tipo de intervenção.
De verdade mesmo, o big problem do uso de fraldas em adultos por longo tempo é a deterioração de toda a pele, papo que merece um post.
Daqueles bem grandes, prá ensinar direitim a cuidar das bundinhas, que podem sim ser lisinhas e sensuais. Escrusive prá quem tem o mijo sorto.
Ah, os zomes ainda têm uma alternativa, que pode ser interessante e da qual falarei amanhã.


Beijoconas,


P.S. As imagens são da Coloplast do Brasil e da Tena. Não consegui imagem do produto da Dryman, empresa brazuca que produz uma alternativa bem legal também.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Fazendo xixi pelo cano

Embora pareça coisa muito complicada, essa de enfiar um canudo na ponta do pênis (ou no buraquinho da uretra, nas mulheres) e fazê-lo chegar até a bexiga para drenar a urina, não tem nada de difícil.
Eu mesma já fiz em mim e tenho pacientes (crianças), que fizeram em mim prá constatar que não tem nada de muito raro nisso tudo.
Lógico que depois eu fiz nelas, né?
Não é um procedimento dolorido, apenas um pouco desconfortável. Mas nada de dor.
E, com o tempo a pessoa acostuma e passa a fazer isso de olhos fechados, de verdade.
Mas porque temos que eliminar a urina???
Simplesmente porque nela só tem coisas das quais nosso corpo não precisa mais, e se ficar tudo isso por muito tempo armazenado, vai virar alimento para as bactérias.
A regra geral é: a cada 2 ou 3 horas a nossa bexiga deve ser esvaziada.
E essa regra deve ser seguida por todo mundo. Sem exceção, sob pena de problemas urinários futuros.
Então vamos à prática.
O cabra precisa primeiramente lavar as mãos. Não tem água nem sabonete?
Use um lenço umedecido, que funciona muito bem.
Daí faz o mesmo com os genitais. Vale o lenço umedecido de novo.
Depois é só ir introduzindo o cateter com um pouco de lubrificante pelo buraquinho do pênis ou da uretra, nas mulheres.
Aliás, nas mulheres, embora pareça complicado, é bem mais fácil: o orifício da uretra é o primeiro que nós temos e, mais abaixo dele vem a vagina.
Ficou confuso? Nada disso, é só introduzir o dedo médio na vagina, para fechá-la e, com o indicador e o polegar segura-se o cateter que vai sendo introduzido no orifício de cima, o que restou, certo?
Pelamordedeus que ninguém tá confundindo isso com o ânus, combinado?
De qualquer forma, antes de começar a aventura, pegue um espelho e explore as “partes baixas” com gosto.
Antes que eu me esqueça, nos homens, durante a introdução do cateter o pênis deve estar sempre perpendicular ao abdômen, ou seja, olhando prá frente, nunca para cima.
Se o cabra sentir uma leve resistência quando passou uns 10 cm do cateter, basta abaixar um pouquinho o pênis e continuar introduzindo que daí vai bem fácil.
É que nesse ponto existe uma parada meio sinistra chamada ângulo peno-escrotal, que pode ser facilmente vencida com essa manobra.
Quando o cateter chegar na bexiga a urina começará a sair pelo cateter espontaneamente.
A minha dica é posicionar-se frente ao vaso sanitário e já deixar a urinar cair direto.
Terminou tudo? Retire o cateter devagar, guarde os seus “documentos”, lave o cateter com água e detergente, enxágüe, seque e guarde prá próxima.
Puxa vida, mas isso é assim tão simples, que nem precisa de luva, antisséptico, seringa, UTI móvel nem nada?
É isso mesmo.
Toda pessoa que tem bexiga neurogênica costuma ter suas bactérias de estimação morando na bexiga, portanto a técnica não precisa ser estéril.
O risco para elas é quando a oferta de alimento para as bactérias (pela urina presa) é grande, quando a sua resistência diminui, ou quando as tais bactérias aumentam demais.
E isso pode ser evitado retirando aquela urina que não foi eliminada.
Se a pessoa conseguir fazer algum xixi espontaneamente, a indicação é sempre passar o cateter depois desse xixi.
É que quando a gente urina, sempre saem aquelas sujeiras que estão pelo caminho e o risco de infecção diminui bastante.
E essas pessoas terão sempre algumas bactérias morando lá, sem necessariamente causar infecção. Que nem nós temos bactérias na boca, que moram na superfície, mas não causam dano.
E que a gente mantêm controladas escovando os dentes e usando fio dental.
Em resumo, o cateterismo vesical intermitente limpo é, para a bexiga dessas pessoas, uma medida de proteção dos rins e de controle da população bacteriana.
Mas e os antibióticos?
Eles só devem ser tomados sob prescrição médica e quando as bactérias estiverem causando confusão: febre, urina escura e fedida, dor, urina presa, entre outros sintomas.
O equilíbrio no dia-a-dia pode ser garantido com a retirada da urina pelo tal caninho, com medidas básicas de higiene.
E prá comprar esse material todo?
Essa é a minha grande batalha profissional.
A legislação garante a todos o direito a esses materiais que, assim como outros, está longe de ser uma realidade: http://www.cedipod.org.br/dec3298.htm
Isso porque o sistema público de saúde ainda não conta com profissionais preparados para o cuidado dessas pessoas e nem com um programa de distribuição de material de forma organizada.
O cateter vesical pré-lubrificado de uso único, ou então cateter vesical + lubrificante, absorventes masculinos/femininos, dispositivos uretrais e coletores de urina, protetores de pele, e todos os breguetes necessários são direito de todos os que deles necessitam, e deveriam ser fornecidos nos serviços especializados.
Veja uma imagem de dois tipos de cateter vesical pré-lubrificado, daqueles ultra mega power extra bacanas:




Ficou com dúvida? Ok, vou falar mais disso no próximo post, tá bão?
P.S. Imagens da Coloplast do Brasil Ltda., valia bem um incentivo monetário, nénão??!!!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Como começam algumas perdas urinárias

Esse post que será publicado em duas partes, foi escrito inicialmente para publicação no blog "Assim como você", do meu amigo Jairo Marques, cujo link fica aqui do lado.
Obviamente que, depois de publicado lá, eu pedi autorização a ele que, muito carinhosamente, me disse que poderia botar aqui.
Achei muito legal começar por esse texto, pois foi o que me inspirou a criar esse cantinho.
Então, aperte os cintos e vamos lá:
Pois é, parece bizarro saber que urinar por um caninho é a realidade de muitas pessoas com problemas neurológicos que dificultam a saída espontânea da urina.
O bagulho começa assim: nós temos dois rins cuja principal função é filtrar as impurezas e o excesso de água no sangue e que mandam tudo isso para a bexiga, através de dois canos chamados ureteres.
A bexiga serve, então, para armazenar a urina até que estejamos em condições favoráveis para eliminá-la, e isso é algo voluntário, para o qual fomos treinados desde a infância.
Já deu prá perceber que o controle geral da coisa acontece no cérebro, né?
Ou seja, a bexiga fica cheia (mais ou menos uns 300ml) e envia essa informação pro cérebro através da medula espinhal e, lá no córtex cerebral nós decidimos se podemos urinar naquele momento, ou se adiamos isso.
Se a gente resolver urinar, quando tudo estiver ajeitadinho, o cérebro envia uma ordem para a bexiga se contrair e, automaticamente a torneira se abre. Daí a urina sai gostoso....
Se a gente não puder urinar naquele momento, o córtex cerebral manda a bexiga ficar de boa que logo, logo vai chegar a vez dela.
Para ficar de boa, ela tem que estar bem relaxada prá caber toda a urina e o esfíncter (a torneira da bexiga) tem que estar bem apertadinho prá não escapar nada.
E quem faz o controle dessas coisas são alguns nervos, que além disso levam as informações para o cérebro e trazem as decisões de volta.
E a estrada por onde circulam todas essas informações é a medula espinhal, que fica dentro da nossa coluna vertebral.
Quando uma pessoa tem alguma lesão na medula, seja ela de qualquer tipo, a comunicação com o cérebro pode ser alterada ou até mesmo interrompida.
Dá prá imaginar o estrago que isso causa?
A bexiga enche e nada da pessoa sentir vontade de urinar.
Ou ela esvazia sozinha, sem que o “servivente” esteja preparado (mijar na calça, certo?). Em outros casos ela vai dilatando e, quando o cara der aquela espremidinha na barriga a torneira não agüenta o tranco e dá uma abridinha... mijou na calça, do mesmo jeito...
Tem casos piores, naqueles em que, na hora de urinar, a bexiga se contrai e a torneira não abre.
Daí a pressão nos ureteres aumenta e os rins correm o grande risco de parar de funcionar logo.
Ou então tem aqueles outros casos em que a bexiga não contrai nunca. E ainda aqueles em que a torneira nunca fecha.
Bem, esses são só alguns exemplos, porque existem uns casos por aí mais problemáticos, e outros nem tanto.
Tudo problema neurológico.
O nome correto disso é disfunção vesical de origem neurológica, ou bexiga neurogênica, como muita gente ainda diz.
Qualquer que seja o caso, a primeira providência é procurar um urologista, que certamente fará um exame urodinâmico para avaliar o funcionamento da bexiga do caboclo.
Para alguns casos tem medicamentos que ajudam, para outros têm cirurgias e, para a grande maioria, a alternativa é dar uma força prá bexiga e esvaziar totalmente a danada algumas vezes por dia através de um cateter vesical, que o povo chama de sonda.
Capturou o lance da necessidade de retirada de urina pelo cano?
Os detalhes sobre essa aventura virão na segunda-feira.
Beijoconas,

P.S. A imagem do veio do Google, viu?

Posso introduzir?

Oi, bem-vindo (a) ao espaço que eu criei para falar de forma descontraída e informal sobre a incontinência urinária, incontinência anal, feridas e estomas.
É que eu sou uma enfermeira estomaterapeuta, especialista em cuidar de gente que enfrenta essas perdas.
Tenho também um outro blog, que qualquer hora dessas eu apresento, pois é um diário virtual e onde pouco falo exatamente do que faço.
Decidi escrever aqui justamente para poder informar, de maneira divertida, aquelas pessoas que estão dando seus primeiros passos para conviver com ou superar essas dificuldades.
O espaço está aberto para sugestões, críticas, perguntas as quais eu me esforçarei para responder, ou ainda quaisquer outras manifestações que possamos encarar juntos.
Sinta-se à vontade para palpitar.
Eu já estou.
Beijocas na bunda,