Embora pareça coisa muito complicada, essa de enfiar um canudo na ponta do pênis (ou no buraquinho da uretra, nas mulheres) e fazê-lo chegar até a bexiga para drenar a urina, não tem nada de difícil.
Eu mesma já fiz em mim e tenho pacientes (crianças), que fizeram em mim prá constatar que não tem nada de muito raro nisso tudo.
Lógico que depois eu fiz nelas, né?
Não é um procedimento dolorido, apenas um pouco desconfortável. Mas nada de dor.
E, com o tempo a pessoa acostuma e passa a fazer isso de olhos fechados, de verdade.
Mas porque temos que eliminar a urina???
Simplesmente porque nela só tem coisas das quais nosso corpo não precisa mais, e se ficar tudo isso por muito tempo armazenado, vai virar alimento para as bactérias.
A regra geral é: a cada 2 ou 3 horas a nossa bexiga deve ser esvaziada.
E essa regra deve ser seguida por todo mundo. Sem exceção, sob pena de problemas urinários futuros.
Então vamos à prática.
O cabra precisa primeiramente lavar as mãos. Não tem água nem sabonete?
Use um lenço umedecido, que funciona muito bem.
Daí faz o mesmo com os genitais. Vale o lenço umedecido de novo.
Depois é só ir introduzindo o cateter com um pouco de lubrificante pelo buraquinho do pênis ou da uretra, nas mulheres.
Aliás, nas mulheres, embora pareça complicado, é bem mais fácil: o orifício da uretra é o primeiro que nós temos e, mais abaixo dele vem a vagina.
Ficou confuso? Nada disso, é só introduzir o dedo médio na vagina, para fechá-la e, com o indicador e o polegar segura-se o cateter que vai sendo introduzido no orifício de cima, o que restou, certo?
Pelamordedeus que ninguém tá confundindo isso com o ânus, combinado?
De qualquer forma, antes de começar a aventura, pegue um espelho e explore as “partes baixas” com gosto.
Antes que eu me esqueça, nos homens, durante a introdução do cateter o pênis deve estar sempre perpendicular ao abdômen, ou seja, olhando prá frente, nunca para cima.
Se o cabra sentir uma leve resistência quando passou uns 10 cm do cateter, basta abaixar um pouquinho o pênis e continuar introduzindo que daí vai bem fácil.
É que nesse ponto existe uma parada meio sinistra chamada ângulo peno-escrotal, que pode ser facilmente vencida com essa manobra.
Quando o cateter chegar na bexiga a urina começará a sair pelo cateter espontaneamente.
A minha dica é posicionar-se frente ao vaso sanitário e já deixar a urinar cair direto.
Terminou tudo? Retire o cateter devagar, guarde os seus “documentos”, lave o cateter com água e detergente, enxágüe, seque e guarde prá próxima.
Puxa vida, mas isso é assim tão simples, que nem precisa de luva, antisséptico, seringa, UTI móvel nem nada?
É isso mesmo.
Toda pessoa que tem bexiga neurogênica costuma ter suas bactérias de estimação morando na bexiga, portanto a técnica não precisa ser estéril.
O risco para elas é quando a oferta de alimento para as bactérias (pela urina presa) é grande, quando a sua resistência diminui, ou quando as tais bactérias aumentam demais.
E isso pode ser evitado retirando aquela urina que não foi eliminada.
Se a pessoa conseguir fazer algum xixi espontaneamente, a indicação é sempre passar o cateter depois desse xixi.
É que quando a gente urina, sempre saem aquelas sujeiras que estão pelo caminho e o risco de infecção diminui bastante.
E essas pessoas terão sempre algumas bactérias morando lá, sem necessariamente causar infecção. Que nem nós temos bactérias na boca, que moram na superfície, mas não causam dano.
E que a gente mantêm controladas escovando os dentes e usando fio dental.
Em resumo, o cateterismo vesical intermitente limpo é, para a bexiga dessas pessoas, uma medida de proteção dos rins e de controle da população bacteriana.
Mas e os antibióticos?
Eles só devem ser tomados sob prescrição médica e quando as bactérias estiverem causando confusão: febre, urina escura e fedida, dor, urina presa, entre outros sintomas.
O equilíbrio no dia-a-dia pode ser garantido com a retirada da urina pelo tal caninho, com medidas básicas de higiene.
E prá comprar esse material todo?
Essa é a minha grande batalha profissional.
A legislação garante a todos o direito a esses materiais que, assim como outros, está longe de ser uma realidade:
http://www.cedipod.org.br/dec3298.htmIsso porque o sistema público de saúde ainda não conta com profissionais preparados para o cuidado dessas pessoas e nem com um programa de distribuição de material de forma organizada.
O cateter vesical pré-lubrificado de uso único, ou então cateter vesical + lubrificante, absorventes masculinos/femininos, dispositivos uretrais e coletores de urina, protetores de pele, e todos os breguetes necessários são direito de todos os que deles necessitam, e deveriam ser fornecidos nos serviços especializados.
Veja uma imagem de dois tipos de cateter vesical pré-lubrificado, daqueles ultra mega power extra bacanas:


Ficou com dúvida? Ok, vou falar mais disso no próximo post, tá bão?
P.S. Imagens da Coloplast do Brasil Ltda., valia bem um incentivo monetário, nénão??!!!