segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Buzanfa prejudicada

A pedido de Jairo, meu bródi, escrevi um post sobre feridas pro blog dele e que, depois de doado, meu chapa mui gentilmente, me deixou usar aqui.
A coisa começa assim: quando a gente tem a sensibilidade normal, mudamos de posição constantemente, sem que nos demos conta.
Fazemos isso no piloto automático, descruzando pernas, levantando uma banda da bunda da cadeira, chacoalhando as pernas, e por aí vai.
Prestenção que você faz isso todo o tempo, sem perceber.
Com a sensibilidade do tato alterada, como acontece em várias deficiências ou lesões neurológicas, essa percepção para mudar de posição não acontece, e a pessoa fica horas/dias/meses do mesmo jeito, se alguém não auxiliar na mudança, para aqueles que também tem a mobilidade prejudicada.
Se isso acontecer, os pequenos vasos (artérias e veias) ficam comprimidos entre as saliências ósseas e a cama, deixando de levar sangue aos tecidos. Isso ocasiona a morte das células.
Tecido morto para o nosso corpo é coisa estranha, ele só reconhece coisas vivas e daí o negócio é botar para fora.
Está iniciada a "úlcera por pressão", que recebe esse nome justamente para que se lembre a sua origem. Antigamente chamava-se escara, hoje o nome mudou.
Começa sempre com uma vermelhidão que não desaparece quando se comprime levemente a pele, esse é o estágio I. Pode botar fé que aí a pele já morreu, abrir tudo é só uma questão de tempo.
Estágio II é quando tem perda de tecido de pequena profundidade, atingindo somente as camadas superiores da pele. No estágio III há o comprometimento de toda a pele e, no IV há perda de músculos e pode chegar aos ossos.
Ou seja, o cabra chega no pronto socorro todo estropiado, a equipe vai cuidando de fazer diagnóstico, radiografias, tomografia, imobilização, cirurgia, curativos, medicamentos, estabilizar o caboclo e todo mundo deixa ele bem quietinho, sem mexer.
Quando passa o furacão, se aparecer uma alma sensível e competente, vão começar a mudar de posição na cama e... surpresa!!!
Tem uma baita feridona na buzanfa do cidadão.
E não é só aí, não. Onde tiver pele sendo comprimida por uma proeminência óssea pode acontecer uma úlcera por pressão, até na cabeça.
Simples assim.
Vamos tratar? Prá começar, mudar de posição a cada duas horas, religiosamente.
Isso quer dizer virar para um lado, ficar duas horas. Depois virar para o outro, mais duas.
Depois de bruços, outras duas horas.
E de costas, mais duas horas.
Ou seja, somente a cada 6 horas (se num errei nas contas) vai haver pressão na mesma área novamente.
Se estiver sentado na cadeira de rodas, tem que fazer a “descompressão isquiática”, ou push-up: a cada 30 minutos, levantar a buzanfa e perninhas sustentando-as nos braços, pelo máximo tempo que conseguir.
Sem isso, pode baixar gzuis que a ferida num fecha, pois faltará o principal: estradas livres (vasos sanguíneos) para chegar nutrientes nas células.
Segunda coisa: alimentação rica em proteínas e vitaminas, com suporte profissional. Caso contrário não haverá nutrientes suficientes para criar pele onde precisa ser cicatrizado. E pode comer de tudo, nenhum alimento é proibido por causar feridas, pelamordedeus!!!!!
Prá finalizar, sugiro a contribuição de um profissional enfermeiro com conhecimento especializado em feridas, o estomaterapeuta (uma lesada que nem eu, craro), para avaliar o cidadão e a lesão e indicar a melhor cobertura a ser colocada ali, além da limpeza adequada.
Não dá prá chutar nem botar qualquer coisa, pois isso pode atrapalhar tudo.
E jamais deixar aberto, botar prá tomar sol, utilizar produtos caseiros, ervas e quetais.
Ah, e o sujeito tem que estar sempre sequinho, limpo, sem fezes ou urina, senão vira um caos.
Esse é o grande nó da coisa, pois sempre que começamos um tratamento, temos que tirar fraldas sujas de urina e fezes, tudo colado na ferida.... retrocesso geral.
Semana que vem continuo falando de perebas, esse assunto tão sedutor.

7 comentários:

  1. divertidissimo esse post... e muito triste o logo abaixo... kisses

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  2. Te dei brigado lá e te dou outro aqui! ;) Essas informações que vc dá aqui, de graça, ajudam milhares, milhares de pessoas ao redor do país... beijocas

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  3. Ricardito e Jairete, obrigada pela visita, meus queridos.
    E beijos nas suas bundas secas, viu?

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  4. Jairo, não só ao redor do vosso Brasil, mas também aqui no meu Portugal. Ó eu aqui! rsr

    Gisele, tenho tetraplegia completa traumática, ao nível C6 e C7.

    Obrigado por não esconder as palavras nas suas mensagens.
    É importante escrever-se abertamente sobre tudo e sem tabus.

    Sucesso

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  5. Gi, eu acho o maximo a maneira aberta que voce escreve as "coisas"!
    Nos vemos na quarta,
    Bebel

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  6. Edu, que saudade da sua terra!
    Sempre que puder, tenha uma overdose de pastéis de Belém por mim.
    Beijocas, querido.

    Bebel, aberta, eu?
    Kisses,

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  7. Gisela, também tenho saudades do seu maravilhoso Brasil!
    Principalmente das paisagens e do povo espontâneo e caloroso que essa terra tem.
    Última vez que estive ai foi em 1990. Uma eternidade...

    Mas eu sou um tetra daqueles que atrai tudo quanto é esquisitice que um tetra que se preze costuma ter.
    CALORRRRR daí deixa-me de rastos por exemplo! Senão já tinha voltado aí.

    Mate saudades dos pastéis por aqui:
    http://www.pasteisdebelem.pt é o que se arranja (como dizemos por aqui)!

    Continue com esse positivismo!

    Fique bem.

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